Priscila, a rainha do deserto




A dica de hoje é o filme “Priscilla, a rainha do deserto”, a versão original lançada em 1994. Roliúdi chegou a fazer uma cópia, mas não chegou aos pés da realização australiana. É um filme de estrada dirigido e escrito por Stephan Elliott. Conta a história de três drag queens em uma viagem de ônibus pelo interior da Austrália. A fotografia é magnífica e só por isso já vale a pena. Mas, o filme é muito mais. Ele é drama, é comédia, é denúncia, é pura ternura.

A história gira em torno da transexual Bernadette (interpretada magnificamente por Terence Stamp). Ela decide atravessar o interior do país com mais dois amigos, ambos drag queens Adam (Guy Pearce) e Anthony (Hugo Weaving), na direção de um show em um cassino. No caminho, as três vão encontrando pessoas e vivendo suas dramáticas existências, no debate permanente sobre o que significa ser o que se é, sem medo. O filme, lançado há 25 anos, é até hoje um marco na luta pelos direitos LGBT.

O figurino é arrasador – ganhou o Oscar em 1995 - e a trilha sonora espetacular, trazendo clássicos da música como o I will survive, e Finally, com cenas memoráveis protagonizadas pelas drag queens que também invadem a tela com cores, brilhos e roupas de época. Isso sem falar no ônibus, que é a sua casa móvel, um personagem à parte que dá nome ao filme. A cena clássica, de Mitzi dançando em cima dele no extraordinário cenário do deserto, é de arrepiar.

Priscilla não é uma comédia boba sobre gays ou transexuais. É um filme magnífico, com diálogos fascinantes,  cenas deslumbrantes de encontros humanos, com uma história belíssima sobre o quanto a decisão de assumir um modo de ser que traz felicidade pode ultrapassar as barreiras da vergonha, do preconceito, do ódio e do medo. Aqueles três seres cruzando o deserto, representam o próprio deserto interior que significava ser gay ou trans naqueles primeiros anos dos anos 1990, ainda tão estigmatizados por conta do surgimento do vírus da Aids.

Pois no filme, as personagens cruzam o caminho, desvendando seus segredos, fortalecendo a amizade, descobrindo belezas e chegam, inteiras e livres, ao seu destino. Um ode à vida.

Priscilla é alegre e triste. É doce e duro. Mas, sem dúvida, é uma pedida imprescindível. Acompanhar aquelas drags valentes, dispostas a se mostrar num tempo ainda tão difícil, é uma lição de vida. Não deixe de ver.