Nova revista: Escritores do Brasil



Texto de Luiz Carlos Amorim - Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 38 anos de trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. 

O Grupo Literário A ILHA, que já publica a revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA e a revista MIRANDUM, da Confraria de Quintana e que completa 38 anos de literatura neste ano de 2018, lança agora a revista ESCRITORES DO BRASIL, para complementar o espaço literário para os novos escritores, que já estava ficando pequeno.

Então está sendo lançada ESCRITORES DO BRASIL, revista que acolhe a produção de nossos escritores - novos ou não - sejam eles de qualquer parte do nosso imenso país e até aqueles brasileiros que estão fora do país. Estaremos publicando poesia, crônica, conto, literatura infantil, entrevistas, resenhas, trechos de obras, artigos literários, ensaios, etc.. E a revista poderá ser lida em qualquer lugar, pois ela estará disponível on-line, colocando a obra de nossos escritores sob os olhos de leitores do mundo todo.

ESCRITORES DO BRASIL é o espaço para que a literatura de nossos escritores seja lida e conhecida. Vale lembrar que escritor não é simplesmente aquele que escreve, e sim aquele que é lido. A nova revista terá espaço para aqueles que estão começando a mostrar a sua obra, mas também estará publicando nomes já conhecidos e até os consagrados. Conheça a revista no link https://issuu.com/grupoliterarioailha/docs/20180714_escritores_do_brasil_107

Quem leu essa primeira edição da revista ESCRITORES DO BRASIL, se for escritor e também quiser publicar seu trabalho nas páginas dela, deve entrar em contato com a redação, pelo e-mail revisaolca@gmail.com, que serão fornecidas  todas as informações para adesão a esse projeto literário.

Nesta primeira edição, preenchem a páginas de ESCRITORES DO BRASIL: Mario Quintana, este que vos escreve, Urda Alice Kueger, Rita Marilia, Enéas Athanázio, Rosângela Wiemes, Maria Teresa Freira, Michle Stringhini, Selma Franzoi, Marta Carvalho, Mary Bastian, Neida Rocha, Eloí Elizabeth Bocheco, Flávio Camargo, Irene Serra, André Figueira, Maria Lefrève, Corisco Mura, Dirce Carneiro, Aila Magalhães, Karine Alves Ribeiro, Rita de Cássia Amorim Andrade, J. C.Bridon, Apolõnia Gastaldi, Roseana Teodoro, Silvia Schmidt, Célia Biscaia Veiga, Marli Lúcia Lisbôa e os grandes poetas brasileiros: Cecília Meireles, Adélia Prada, Dora Ferreira da Silva, Henriqueta Lisboa, Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes, Drummond.

Lúcifer


Sou de um tempo em que a família toda se reunia para ouvir a novela do rádio. A gente almoçava, lavava a louça e depois ficava todo mundo diante do rádio para acompanhar a saga dos heróis românticos. “O egípcio”, ah, que novela, ambientada na terra dos faraós. Radamés era o mocinho, sempre as voltas com intrigas e lutas. Ou então “Eu compro essa mulher”, um drama quase mexicano de amor e tramoias. A novela era a aventura de todo dia. Quando chegou a televisão, os folhetins do rádio, que nós imaginávamos, tomaram corpo e vinham com imagens. Foi quando comecei a gostar das séries, que eram uma espécie de novela, só que com episódios com começo, meio e fim, nele mesmo. Parecia mais legal. E as tramoias se resolviam rápido. Desde o “vigilante rodoviário” sou uma aficionada, sempre enredada em alguma dessas histórias.

A última que me tomou é Lúcifer, divertida série de fundo teológico que se mistura com a loucura dos nossos tempos, e ao cotidiano policial. Na história, o portador da luz, o anjo caído, Lúcifer, deixa o inferno e vem para Los Angeles, disposto a confrontar seu pai mais uma vez. Com ele vem um demônio, fiel escudeiro. Mazikeen. A série trata então das aventuras de Lúcifer buscando punir criminosos e ao mesmo tempo encontrar o caminho de volta para o céu.

A proposta teológica é bem interessante já que coloca deus como um pai intransigente e incapaz de perdoar. Aparece até uma “mãe de todos os homens”, supostamente a mulher de deus, que também foi enviada ao inferno por querer ter o mesmo poder que deus. É um enredo inteligente, sagaz, divertido e instigante. Como gosto de teologia, vou me encantando com as propostas da série, que conta ainda com um maravilhoso irmão de Lúcifer, o anjo Amenadiel.

O ator que faz o Lúcifer, Tom Ellis, é inglês e é adorável, muito adequado ao personagem. Mas a criatura que me fascina mesmo é Maze, a que personifica o demônio. É rude, terna, má, bondosa, amiga, fiel, traiçoeira, tudo ao mesmo tempo. Creio que nunca vi um demônio tão bem caracterizado. Sua história é a busca por ser amada, apesar de ser quem é. Sublime e fascinante. A atriz é Lesley-Ann Brandt, uma sul-africana absolutamente linda e fenomenal na caracterização do personagem. E, em quase todos os episódios, me leva às lágrimas.

Eu, Tonya


De vez em quando roliúde mostra as vísceras da realidade das famílias pobres estadunidenses mesmo que sem querer. Um exemplo disso é o impactante filme Eu, Tonya, que traz recortes da vida de uma patinadora do gelo, conhecida internacionalmente por ter sido a primeira a conseguir fazer o salto axel triplo, de dificuldade máxima no esporte.

O trabalho dirigido por Craig Gillespie apresenta a dura realidade de uma garota que tinha tudo para ser extraordinária nessa modalidade esportiva, uma vez que desde os três anos de idade já se destacava no gelo. O problema é que Tonya é pobre. Fruto de uma típica família empobrecida dos Estados Unidos, com todo o histórico de desamor, violência e abuso.

A patinação é um esporte para gente endinheirada, e Tonya era o patinho feio, apesar do talento absurdo. Suas roupas eram feias, não se enquadrava no gênero princesinha, fugia das regras das músicas clássicas bem comportadas. Por conta disso era sistematicamente discriminada e prejudicada nos campeonatos. A mãe alcoólatra a trata com porradas, e quando encontra seu primeiro amor, que virá a ser seu marido, é isso que encontra também.

Uma vida pesada, dura, sem qualquer ternura. E o tempo todo sofrendo boicotes e rejeições. Ainda assim é ela a primeira na história do esporte a realizar o tal salto triplo, ficando portanto para sempre na história. Imperdoável.

Seu drama de violência e abusos se aprofunda quando o marido decide tirar do caminho a sua rival, quebrando-lhe a perna durante uma olimpíada. Toda sua vida como atleta, construída literalmente à facão vai para o ralo. E o tempo todo o filme mostra o quanto alguém que vem da ralé não tem porra de chance nenhuma no famoso “ Way of life” estadunidense. É só porrada, o tempo todo.

Incriminada, ela perde o direito de patinar. Aquilo que era sua própria vida. Então, fazendo uso de todo o ódio acumulado numa vida de profunda violência ela vai para o box, extravasando toda sua dor na cara das adversárias. As cenas finais são dilacerantes e escancaram a farsa da terra das oportunidades.

Na internet, o filme recebe a etiqueta de comédia, coisa que absolutamente não é. Ele é um drama extremamente perturbador e nos carrega pelas sequências provocando um infinito desejo de colocar aquela mulher entre os braços e enchê-la de ternura. E, assim como Tonya, quantas outras tantas meninas/mulheres não tem cotidianamente sua vida interrompida pela dureza de um sistema que existe para moer gente?

Destaque para a atuação de Allison Janey, como mãe de Tonya. Extraordinária.

Vale ver.

Tartarugas podem voar


Assistir ao filme do iraniano Bahman Ghobadi que tem o delicado nome “Tartarugas podem voar” é mergulhar no terror da guerra, qualquer guerra. O filme em questão se passa numa aldeia kurda, na divisa entre o Irã e o Iraque, durante o ataque dos Estados Unidos ao Iraque no ano de 2004.

A história é ancorada na vida cotidiana da relação entre os aldeões e os refugiados de outros ataques, bastante comuns na região conflagrada. O centro do filme são as crianças e o triste destino que lhes é determinado pela guerra em curso. Boa parte delas são crianças sem família, que precisam se virar sozinhas num mundo que não tem tempo para delicadezas. Meninos e meninas, desmembrados pelas minas que enchem os campos e que são responsáveis pela morte e mutilação de centenas de milhares.

Nesse cenário de tragédia e destruição assoma o garoto Satélite, um sobrevivente que se faz comerciante, negociante, técnico, patrão e protetor. Ele é a liderança que comanda um pequeno exército de crianças que se expõem nos campos a recolher minas estadunidenses que valem muito dinheiro no comércio da guerra. Ele se encanta com Agrin, um garotinha refugiada, que anda pelo acampamento com uma criança a tiracolo, e com seu irmão, o qual não tem os dois braços e é capaz de ter visões.

O drama da vida das gentes na guerra se singulariza na dura sorte das mulheres e meninas, que frequentemente são estupradas e acabam parindo filhos que não querem ter, e que lhes pesam como marca do terror da guerra.

É um filme duro, triste, desesperador, que retrata sem filtros o cotidiano dessas pessoas que aparecem apenas como estatísticas na televisão. Há que ver e sentir, no mais profundo de si mesmo, a urgente necessidade de mudar esse mundo, destruindo o modo de produção capitalista que se ampara na guerra.

O filme é uma produção de 2005, mas a realidade ainda é a mesmo no Iraque e nas zonas conflagradas daqueles cantões.

Masaan


O filme indiano Masaan, foi produzido em 2015 e é dirigido por Neeraj Ghaywan. É um mosaico de histórias que se cruzam e entrelaçam ao longo do rio Ganges, o mais importante da Índia, inclusive do ponto de vista espiritual. Um jovem apaixonado e um amor impossível por conta da lógica das castas, uma jovem mulher e as desditas da situação feminina na índia, um pai infeliz com desvanecimento da moralidade e uma criança buscando a chance de ser acolhida em uma família.

A realidade de cada um vai passando e desvelando a tragédia da vida dos trabalhadores na Índia, o que de certa forma é universal, visto que é a mesma tragédia dos trabalhadores em qualquer parte do mundo. O que dá singularidade ao filme é justamente a realidade indiana com todos os seus dramas envolvendo a milenar separação por castas, algo que torna o destino de cada um determinado e imutável, mesmo já estando no século XXI. Tudo parece ser como sempre foi.

A condição da mulher também aparece de forma brutal, no controle da vida pelos pais, pelos parentes, pelos vizinhos e até pelos colegas de trabalho. Uma realidade chocante e triste que impede a vida e o amor, levando a atitudes extremas ou a mais dolorosa solidão. Outro elemento que assoma no filme é a profunda herança do colonialismo ainda absolutamente presente na relação dos empobrecidos com as autoridades ou com qualquer outro que esteja uma casta acima. É devastador.

A condição de classe e o infortúnio do abandono das crianças é tratado com muita sensibilidade, mostrando que a solidariedade ainda pode acontecer, apesar da voracidade da vida cotidiana.

Todas as histórias são tristes mas, ainda assim o diretor consegue tratar a vida dos desvalidos de maneira muito delicada apontando um final inesperadamente terno em meio a tanta dureza da vida.

O filme tem uma linda fotografia, afinal, a colorida índia é sempre bonita, mesmo nos espaços mais pobres. A interpretação do jovem ator indiano Vicky Kaushal é tocante.

Massan pode ser visto no sítio www.filmotecaonline.com.br onde vocês também podem encontrar outros filmes com produção em países fora do circuito roliudiano.

O cidadão ilustre


O cidadão Ilustre é um filme que pode transitar ente a comédia e a reflexão. Conta a história de um escritor famoso, ganhador do Premio Nobel de Literatura, que aceita passar três dias na sua cidade natal, de onde saíra há 40 anos. Chegado lá, ele participa de uma série de atividades culturais que vão causando desconforto e rancores. Ao longo do filme, vamos percebendo que toda a obra do escritor baseou-se na vida das pessoas da pequena cidade interioriana e sua chegada depois de tanto tempo provoca um verdadeiro furacão de emoções.

O escritor encontra amigos de infância e também seu primeiro grande amor e a trama vai se desenvolvendo num ritmo lento e sufocante, tal qual a cidade volta a aparecer para o personagem. Dali ele saíra ainda bem jovem justamente por não suportar o provincianismo, e é com ele que se depara a cada momento.

Tentando trazer alguma discussão sobre a arte e a cultura ele se depara com a rudeza das relações baseadas no poder e na ignorância. E para completar ainda se envolve com uma jovenzinha que depois vai saber ser a filha da mulher que ele deixou ali para se aventurar na vida de escritor. Tudo isso vai dando pano para manga para uma esperada tragédia.

Como quase todo filme argentino, o trabalho é um primor. Sem contar o cenário que apresenta a paisagem típica do interior argentino. Foi exibido no Festival de Veneza 2016, do qual saiu com o prêmio de melhor ator para Oscar Martínez, que faz o personagem do escritor. O longa-metragem é dirigido pela dupla Mariano Cohn e Gastón Duprat e é profundamente incômodo, instigante e universal.

Vale ver.

A forma da água


Li muitas críticas sobre o filme de Guillermo Del Toro, “A Forma da Água” e acabei ficando sem vontade de ver. Foi muito pau. Mas, depois, repensando, pensei que seria melhor ver e ter a minha própria opinião. Assisti ontem. Achei encantador. Mergulhei na densa atmosfera do tempo da “guerra quente” quando os estadunidenses caçavam comunistas e viam nuestra américa como espaço do exótico. Gostei dessa ideia de ambientar a história naqueles dias, tão medonhos. Porque, afinal, hoje vivemos tempos assim também. O medo do outro. O ódio do outro.

A forma da água é uma história de amor, doce e delicada história de amor, como qualquer outra dessas que a gente vive por aí. Prosaica. Foi o que me tocou. Uma história cheia de símbolos, típicos de “nosotros”, as gentes dessa américa mestiça. Gostei também dos personagens, a moça muda, o velho desiludido da vida, a amiga protetora e infeliz. Gostei da mensagem sobre a presença de alguém que nos toca e nos transforma, a partir do amor. Gostei de ele ter apresentado o “monstro” como uma espécie de deus, não apenas capaz de curar o corpo, mas curar das dores internas ( o caso do velho, que nos novos desenhos se reinventa), com o toque, o amoroso toque. Essa coisa tão pouco praticada hoje.

Achei o final lindo, porque é feliz. E a gente precisa de felicidade, nem que seja só na magia do cinema. O amor nos salva, sempre. É o que o filme me diz.

Com amor, Vincent


A primeira vez que vi Vincent foi através de uma de suas pinturas, “Os comedores de batatas”, que compunham uma coletânea dos melhores pintores do mundo, numa dessas coleções que meu pai comprava dos vendedores de livros que batiam na nossa porta. Eu devia ter uns 10 anos. Gostava do quadro porque me lembrava da casa da vó Tila e do vô Dionísio. Lá não havia luz e a gente também comia sob a luz do lampião. Eles eram agricultores e a comida sempre era simples, no geral um único prato. E, por fim, porque eu sempre fui apaixonada por batatas. Assim, aquela cena de luz bruxuleante impregnava minhas retinas. Os trabalhadores e sua imanência.

Só bem mais tarde fui descobrir e também amar o Vincent mais colorido, amarelo e vibrante. Ainda assim, “os comedores de batata” seguia sendo meu quadro favorito. Para além da pintura, a história dramática do pintor, tão triste, sempre me comoveu e uma das primeiras coisas que fiz quando fui a Amsterdã foi buscá-lo, no museu que abriga suas obras. Por algum motivo não sabido, eu sempre o amei.

Ontem vi o filme de Dorota Kobiela e Hugh Welchman “Com amor, Vincent”, cujo projeto reuniu 100 diferentes pintores e somou 65 mil frames. Chorei o tempo todo da projeção e segui chorando, aos soluços, até umas três horas depois. O filme é uma poesia, uma belezura, uma obra de arte. Um grito de amor a esse tumultuado artista que, em apenas oito anos de trabalho, reinventou a pintura.

Ao ver que a história girava em torno do profundo amor que o carteiro Joseph Roulin tinha por Vincent, verteu o aguaceiro. Pois é justamente a família de Roulin que Vincent imortalizou no quadro “os comedores de batatas”. E a saga de seu filho, tentando desvelar a morte do pintor, é estonteante, apaixonante, abissal.

Enquanto o jovem busca a verdade, as telas de Vincent se movimentam sob nossos olhos e aí, essa mistura da pintura, da vida e dos sentimentos de Van Gogh vão amalgamando um sentimento que é misto de dor, alegria, prazer e desespero.
Vincent começou a pintar aos 28 anos e morreu aos 37. Cedo demais. Ou não. A explosão de sua obra talvez tivesse sido grandiosa demais para o corpo. Em vida vendeu um único quadro e hoje é um dos mais importantes pintores de todos os tempos. O filme explora essa intensidade, essa necessidade oceânica de expressar a vida. O tempo passa e a gente não sente, misturada entre risos e lágrimas, entre a doçura e mão dura da dor.

Quando acaba, não acaba, e a gente fica atordoada por horas. Pela beleza da obra, por Vincent, pela beleza da vida. Uma vontade louca de abraçar aquele ruivo grandote e dizer: Te amo. Obrigada.

Recomendo o filme. É extraordinário...

A delgada linha amarela


O filme, de produção mexicana, conta sobre a jornada de cinco homens, que são contratados para pintar a linha divisória de uma estrada que une duas cidadezinhas, no México. Trabalhadores solitários, sem carteira assinada, sem garantias, sem nada, buscando sobreviver a mais um dia, nesse mundo de opressão e exclusão.

No carro de um deles - o patrão nem veículo dá - eles partem para o trabalho que deve demorar 15 dias. Serão 200 quilômetros percorridos à pé, em condições climáticas extremas. O filme se desenrola nesse espaço de tempo, no qual eles vão se conhecendo, realizando encontros, vivenciando gestos poéticos , criando laços e modificando, cada um, suas próprias vidas.

O filme é de uma beleza imensa e constitui uma metáfora da vida mesma. Essa linha fina que existe entre o bem e o mal, a vida e a morte, a lágrima e o riso. Essa guia que sinaliza o equilíbrio e a direção. Sob o comando de Dom Antonio, ele mesmo uma alma em escombros, os personagens - mais uma cachorrinha que encontram pelo caminho - vão se desnudando, de um jeito lento e silencioso, como é comum aos que são endurecidos pela vida.

O trabalho é cumprido, apesar de todos os percalços, e a delgada linha amarela termina, deixando um vazio e uma esperança. A solidariedade de classe, a generosidade humana, o amor pelo outro, a capacidade de mudança que todos temos dentro de nós.

O filme tem a presença de importante atores mexicanos como Damián Alcázar, o grande Joaquín Cosío ( Joaquin cosio), Silverio Palacios, Gustavo Sánchez Parra, e Américo Hollander.

Vale ver. É de uma belezura sem fim.

Nossas noites


Nossas noites, um filme dirigido pelo indiano Ritesh Batra, Com Robert Redford e Jane Fonda, é um filme de amor e de verdade. Dois velhos viúvos, que moram em casas próximas, que se conhecem uma vida toda e que decidem passar a noite juntos para driblar a solidão. A mulher é quem faz a proposta. Ele, a princípio, fica atônito. Depois decide aceitar. E eles passam a se encontrar nas noites, sendo aos poucos alvo de comentários por toda a cidade. Enfrentam a fofoca com bom humor e o que era para ser apenas um arranjo para tornar as noites menos duras, passa a se transformar em amizade e amor.

Então vêm os dramas de sempre. O filho da mulher começa a viver problemas no casamento, não tem com quem deixar o filho e a mãe passa a ser seu porto seguro. E no afã de resolver seu problema, acaba criando outro para a mãe. Incapaz de compreender o que se passa entre os dois, atrapalha e condena o romance dos velhos.

O filme é lento e lindo. Diferente para os padrões da indústria de roliúde. Os astros não travam batalhas, não há balas nem explosões. São duas pessoas comuns, na plenitude da velhice. Sem maquiagem, sem máscaras. Já não tem mais nada a perder, por isso tratam de viver o que dá, e com a maior intensidade possível. É terno, é engraçado, é leve.

Mesmo com a incapacidade do filho em compreender o amor, os dois velhos acabam encontrando uma forma de seguirem vivendo o que construíram, com delicadeza e riso. É um libelo à ternura e a sede de viver, bem típico de Robert Redford, que estrela o filme e já dirigiu outros filmes de teor igual.

No começo é duro vê-lo tão envelhecido, ele que já foi um padrão de beleza, mas , depois, vamos percebendo que a beleza segue ali, porque não é só física. Jane Fonda também está deslumbrante, com longos cabelos brancos e seus magníficos olhos claros. A atuação dos dois é irretocável. Estão fantásticos.

O filme é uma produção original da Netflix. Vale conferir.

Imperatrizes no palácio



Hoje vamos passar uma dica de cinema, no caso, uma série, dessas que a gente encontra também no Netflix. Mas não é uma daquelas séries intermináveis, cujo enredo vai mudando de maneira louca, sem nunca se resolver. Não. Ela tem poucas temporadas e tem um final. É uma produção chinesa, de 2011, chamada “Imperatrizes no Palácio”. A história se passa no tempo da dinastia Qing, a última da China imperial, e conta a história de Zhen Huan, uma moça simples que se torna uma das concubinas do imperador.

O filme mostra a dura realidade da vida das mulheres chinesas nos tempos do império, as quais não tinham outra escolha a não ser servir ao imperador. Todos os anos, ele mandava buscar as jovens mais bonitas do entorno do palácio ou das regiões mais distantes, para lhe servirem como concubinas. E, não bastasse essa violência de não ter mando sobre si mesmas, elas, chegando no palácio, ainda tinham de enfrentar toda uma rede de intrigas dentro do harém, no qual cada mulher tinha de batalhar para não morrer ou não servir de capacho para as mais velhas e com mais poder.

Na saga de Zhen Huan pode-se mergulhar nessa cultura intrigante e perturbadora que é a cultura chinesa. A produção primorosa mostra em detalhes a vida nos palácios, as roupas, os costumes, a arquitetura e o terror. Um mundo onde os homens mais fieis eram castrados para não se renderam as mulheres do imperador que viviam no harém, onde o amor era impossível, a amizade inexistente, e tudo acabava se resumindo a uma louca e dolorosa luta pela sobrevivência. O palácio com suas riquezas era só um campo de guerra na vida de todos.

A série foi tão bem acolhida na China que a atriz principal Sun Li, acabou tendo sua personagem Zhen Huan imortalizada no famoso museu de cera local. Para quem gosta de dramas de época esse é um prato cheio. As atrizes são ótimas e a história acaba prendendo a gente até o final. É um enredo triste, mas é a realidade de um tempo que se formos ver com mais profundidade, ainda não acabou.

O homem que viu o infinito



O filme conta a história real do matemático indiano Srinivasa Ramanujan. Um jovem pobre, sem estudos, que foi responsável por revoluções na matemática abstrata, fazendo avanços consideráveis nas frações continuadas e nas séries infinitas. Ele é autodidata e as fórmulas brotam de dentro dele como se fossem cascatas, sem que ele mesmo entenda como chegou a elas. Por conta de um amigo do trabalho ele envia suas fórmulas a um professor de Cambridge, que se surpreende com os cálculos e o manda ir para a Inglaterra.

Lá, numa universidade famosa e frequentada pelos ricos, ele vive seu drama de ser um marginal no processo. Indiano, filho de um país ocupado pelo império inglês, é colocado diante do racismo, do preconceito, da discriminação. O filme retrata bem os horrores da mentalidade colonial que trata o outro, dominado, como alguém incapaz.

Ramanujan encontra no professor Hardy um mentor e um amigo, num processo também turbulento e marcado pelas diferenças culturais, muitas vezes não compreensíveis para o inglês.

A grande batalha de Hardy é fazer com que Ramanujan aponte as provas dos seus cálculos. E o indiano, singelamente diz que não precisa de provas, pois as fórmulas são sopradas pela sua deusa. São como canções dela para ele, na mística relação que o indiano tem com o sagrado. Algo que aparece também incompreensível para o professor inglês, que é ateu. Essa conversa PE um dos momentos mais bonitos do filme.

A trajetória de Ramanujan para ser aceito na Academia inglesa faz parecer que nada mudou, ainda que a história se passe no início do século XX.

É um filme simples e bonito, que toca o coração. A dupla de aluno e professor é interpretada pelo genial Jeremy Irons e Dev Patel. Os dois estão ótimos. No final, a gente chora, se enraivece, se indigna, mas também consegue sentir o quão profunda pode ser uma amizade quando duas pessoas se deixam tocar uma pelo outra, sem medo e sem julgamento.

O homem que viu o infinito é um pouco a história dos países dependentes diante da colônia. Sempre doloroso. E sempre dramático.

Flamarion Trevisan - a pampa latino-americana no pincel


Artista plástico nascido em Santa Maria/RS, vive em Florianópolis e tem como um dos temas recorrentes da sua obra, o homem do campo. Desde o gaúcho primitivo, o paysano, o gaucho da pampa até o sem-terra dos tempos atuais. Na tela salta a vida da pampa gaúcha que cobre o sul do Brasil, Uruguai e Argentina.


Estrelas além do tempo



Abstraindo as babaquices do "americanismo", sempre presente nos filmes de roliúdi, o "estrelas além do tempo" é uma belezura... Mostra o pioneirismo das mulheres negras em áreas até então masculinas. Atuação primorosa de todas elas, mas principalmente Octavia Spencer (que faz a programadora de computadores)... Que mulher... Vale ver...


Lion



Assisti o filme Lion. E senti uma avassaladora tristeza. Não pela história em si, que ao fim, é bonita e termina bem. Mas, é de uma dor incrível saber que na Índia, perdem-se mais de 80 mil crianças todos os anos. E que elas passam por coisas tenebrosas como prostituição, roubo de órgãos e violência extrema. Que porra de mundo é esse? O filme é expressão máxima do que é o sistema capitalista, da violência que engendra, da miséria que provoca. Não é possível que exista alguém que possa achar isso normal...

Hope



Assisti a esse incrível filme sul-coreano por puro acaso. Zapeando, vi a chamada, achei interessante e dei o início. Uma história dura. O estupro de uma menina de oito anos, numa determinada cidade da Coréia do Sul. É baseado em uma história real. É pesado e é doce, bem distante dos filmes semelhantes produzidos no padrão “roliúdi”. O foco do trabalho não está nem no estupro, nem na busca do criminoso, mas na completa mudança de relações dentro da família e da comunidade.

As cenas mais incríveis são as da aproximação do pai a essa menina tão violentamente machucada. Importante registro desse mundo masculino oriental que sempre se nos aparece, aos ocidentais, como frio e insensível. É de uma ternura abissal. Igualmente lindo é o aspecto que envolve a amizade entre a garotinha e o menino, que é seu vizinho e antagonista na escola, e a profunda ligação do pai da menina com seu chefe e amigo.

É um filme sobre humanos e humanidade. É de uma beleza infinita. Choram-se rios de lágrimas, lágrimas boas. E fica-se com aquela sensação de que o ser humano pode transcender. É um filme devastador!

Atuação magnífica de Sol Kyung-gu Super-recomendo.