O suplente


A dica de hoje é o filme argentino "O suplente" dirigido por Diego Lerman e estrelado por Juan Minujín. O tema não é novo e traz a história de um escritor que para sobreviver vai dar aulas num colégio público que fica no bairro onde ele nasceu. Poderia ser mais um daqueles clichês de professor querendo arrumar a vida de seus estudantes algo deslocados do mundo por conta da tragédia da pobreza, mas, ainda que apresente algumas obviedades, o filme acaba fugindo disso.

Apesar de Lucio – o professor  - se deparar com a indiferença e o desencanto dos alunos e tentar fazer o possível para motiva-los a se interessar por literatura, o centro do filme é, na verdade a dura decisão que Lúcio tem de tomar: assumir ou não o lugar do pai na luta por um mundo melhor. No bairro o pai de Lucio é um conhecido lutador social que batalha contra a prefeitura e os traficantes, oferecendo comida de graça para os sem-nada. E, na volta do filho para o bairro, lidando com os mesmos dramas na escola, ele o interpela. 

O filme já nos pega pela estética diferenciada, totalmente diversa da dos filmes estadunidenses. Uma Argentina conhecida e próxima, também calejada por seus problemas sociais, nos salta à cara. Bairros de lata, gente drogada, traficantes, impossibilidades, juventude sem direção, ruas de cimento, casas gradeadas e escuras. Na trama, Lucio acaba se envolvendo nos problemas de um aluno, que também circula no restaurante do pai. É aí que as vidas do pai, filho e pupilo se juntam.

Por fim, na batalha por ajudar o garoto a fugir do tráfico, Lucio perde o pai e se vê inapelavelmente diante da decisão que evitava tomar: seguir ignorando a luta que se desenvolve sob seus olhos ou mergulhar, como o pai, na difícil batalha da luta social. O final não tem surpresa, mas deixa a gente com aquele sorriso bobo nos lábios, principalmente gente como nós, que seguimos aí na luta para mudar esse mundo ruim. Vale ver. Tem no Netflix.