A dica de hoje é a série Hinterland, uma produção inglesa
que tem seus episódios todos gravados no molhado e cinzento País de Gales. Uma
de suas singularidades é que cada cena das três temporadas que a compõe - é uma série curta - foi filmada duas vezes, em inglês e em
galês, a língua local. É uma série policial, mas bastante diferenciada das que
estão por aí. Não tem tecnologia, não tem tiros, não tem cenas aventurosas.
Pelo contrário. É bastante simples, toda ela sustentada na atuação dos
personagens e no modo de vida do País de Gales. Lá, pelo que se vê, os
policiais sequer andam armados e enfrentam assassinos apenas com a perseverança
da investigação e da inteligência.
A série tem episódios longos, de uma hora e meia, e toda a produção é bastante cinematográfica.
O tempo todo parece haver alguém espiando as cenas através de uma janela ou uma
porta entreaberta. Não há, é só um recurso para manter a tensão do clima.
Os crimes vão sendo resolvidos na medida em que se
descortinam vidas em escombros, seja por tradições familiares ou pela solidão,
ou pelos traumas vividos na infância. Não há humor, os personagens são contidos
e têm eles mesmos sua carga de sofrimento e dor. Ainda assim é possível se
conectar com suas histórias e estabelecer laços de empatia, até porque os dois
detetives, um homem solitário e uma mãe solteira, são íntegros e comprometidos
com a justiça. Também há uma dupla secundária
de policiais, igualmente complexos e misteriosos.
O estranhamento que a série causa é justamente o seu espaço.
Uma paisagem gelada, árida, e interiorana. Os episódios se desenvolvem na
imensidão dos campos, nas vilas escondidas, nas fazendas esquecidas, nas
solidões. Mas, apesar de tudo isso, assoma a humanidade dos policiais na
interminável busca pelo que pode haver de belo no humano, apesar da crueza dos
crimes. Uma opção para quem gosta de mistério e de humanidade. Tem na Netflix.