A voz suprema do blues


O filme é um encontro de gigantes. Não tem efeitos especiais, nem tiros, nem nada que roube a atenção. Tudo gira em torno de diálogos muito bem construídos e a maravilhosa atuação de Viola Davis, Chadwick Boseman e o veterano Glynn Turman. A história se fecha dentro de um dia de gravação da lendária  Mãe do Blues, Ma Rainey, na cidade de Chicago, na década de 1920, num tempo em que os negros brilhavam na música, mas seguiam sendo discriminados e roubados no seu talento e na sua riqueza musical. 

A trama traz os dramas vividos pelos negros no negócio da música e também se desenrola a partir de relações afetivas, ou não, entre os também talentosos músicos de Ma Rainey. Viola, que faz a mãe do blues, está sublime, expressando como ninguém a dualidade da vida do negro naqueles dias. Ela é famosa, rica, tem uma amante jovem e bonita, mas segue sendo tratada como um ser humano de segunda linha. Ela se rebela, do seu jeito. 

Na banda que a acompanha está um talentoso e ambicioso trompetista, Levee, que é interpretado por Chadwick Boseman, sendo esse seu último papel no cinema, pois logo veio a falecer de câncer. O personagem de Chad se engraça com a namorada de Ma e daí se aprofunda uma tensão que vai acompanhar todo o filme. Nos bastidores o jovem músico, que sonha fazer sucesso com suas próprias composições, vai se desentendendo com um dos colegas, enquanto acontecem discussões sobre o racismo na indústria da música, no país, sobre os dramas familiares e as dores de cada um.

No final do dia, tendo uma música sua recusada pelo produtor, que lhe oferece apenas comprar a composição por 500 dólares, a tragédia aflora a partir de um acontecimento prosaico. As vidas se destroçam enquanto a indústria da música segue seu caminho  branco e racista. É uma dolorosa história que pode ter sido a de centenas de jovens músicos e cantores  impedidos de brilhar por conta da cor. Uma história que não ficou no passado, mas segue ainda hoje no blues, no jazz e no rock.

Vale ver. Está no Netflix.