O gato amarelo


A dica de hoje é o filme cazaquistanês, “O gato amarelo”, produzido em 2020 e dirigido por Adilkhan Yerzhanov. Conta a história de um jovem que sai da cadeia disposto a mudar de vida, montando um cinema nas montanhas do Casaquistão, onde vive. Já no primeiro dia depois da liberdade ele tenta encontrar um emprego, mas é impedido por um policial, que é seu irmão e também parte de uma banda criminosa. A intenção é fazer com que ele volte a vida de crimes servindo a um bandido local, destino natural da gente daquele lugar. Sem saída ele vai e nessas andanças acaba conhecendo uma garota, que vive numa casa de prostituição. Ele ganha uma noite com ela e passa o tempo falando do seu sonho de montar o cinema, apaixonado que é pelo filme O samurai, com Alan Delon, que viu inúmeras vezes na prisão.

Os dias passam na calorenta e vazia estepe até que Kermek se vê diante da ordem de matar uma família inteira. Ele não cumpre e foge com o dinheiro, disposto a fazer acontecer o seu sonho. Mas, naquelas aldeias perdidas do Casaquistão, parece não haver possibilidade de fuga. Ainda assim, ele vai em busca da jovem prostituta e a leva junto para a aventura de construir o cinema. É uma relação mesclada com a dureza da realidade e a ternura que os dois conseguem ter apesar de tudo. As cenas são lindas e os diálogos cheios de pureza.

Mas, a cada passo que eles dão, a gangue que os persegue também chega, fazendo com que novamente tenham de fugir. Por fim, sem saída, Kermek tenta mudar seu destino conversando com o bandido local. “Porque temos de viver como cães? Por que não mudamos isso? “. Uma indagação que fica no silêncio.

O final é triste e impactante. Expressa toda a dureza de uma cultura e a brutalidade de um cotidiano que parece imutável. Retrata a triste lenda do gato amarelo, prática usada no Casaquistão para incendiar terrenos que depois serão tomados pela grilagem. Uma realidade tão distante e ao mesmo tempo tão próxima, pois assim como é lá no leste Europeu também pode ser numa favela em El Salvador ou num morro do Rio de Janeiro. 

O trabalho é lindo. A história é dura. Mas ainda assim, eivado de humanidade. O filme pode ser visto na plataforma Mubi.  


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