Tartarugas podem voar


Assistir ao filme do iraniano Bahman Ghobadi que tem o delicado nome “Tartarugas podem voar” é mergulhar no terror da guerra, qualquer guerra. O filme em questão se passa numa aldeia kurda, na divisa entre o Irã e o Iraque, durante o ataque dos Estados Unidos ao Iraque no ano de 2004.

A história é ancorada na vida cotidiana da relação entre os aldeões e os refugiados de outros ataques, bastante comuns na região conflagrada. O centro do filme são as crianças e o triste destino que lhes é determinado pela guerra em curso. Boa parte delas são crianças sem família, que precisam se virar sozinhas num mundo que não tem tempo para delicadezas. Meninos e meninas, desmembrados pelas minas que enchem os campos e que são responsáveis pela morte e mutilação de centenas de milhares.

Nesse cenário de tragédia e destruição assoma o garoto Satélite, um sobrevivente que se faz comerciante, negociante, técnico, patrão e protetor. Ele é a liderança que comanda um pequeno exército de crianças que se expõem nos campos a recolher minas estadunidenses que valem muito dinheiro no comércio da guerra. Ele se encanta com Agrin, um garotinha refugiada, que anda pelo acampamento com uma criança a tiracolo, e com seu irmão, o qual não tem os dois braços e é capaz de ter visões.

O drama da vida das gentes na guerra se singulariza na dura sorte das mulheres e meninas, que frequentemente são estupradas e acabam parindo filhos que não querem ter, e que lhes pesam como marca do terror da guerra.

É um filme duro, triste, desesperador, que retrata sem filtros o cotidiano dessas pessoas que aparecem apenas como estatísticas na televisão. Há que ver e sentir, no mais profundo de si mesmo, a urgente necessidade de mudar esse mundo, destruindo o modo de produção capitalista que se ampara na guerra.

O filme é uma produção de 2005, mas a realidade ainda é a mesmo no Iraque e nas zonas conflagradas daqueles cantões.

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