Eu, Tonya


De vez em quando roliúde mostra as vísceras da realidade das famílias pobres estadunidenses mesmo que sem querer. Um exemplo disso é o impactante filme Eu, Tonya, que traz recortes da vida de uma patinadora do gelo, conhecida internacionalmente por ter sido a primeira a conseguir fazer o salto axel triplo, de dificuldade máxima no esporte.

O trabalho dirigido por Craig Gillespie apresenta a dura realidade de uma garota que tinha tudo para ser extraordinária nessa modalidade esportiva, uma vez que desde os três anos de idade já se destacava no gelo. O problema é que Tonya é pobre. Fruto de uma típica família empobrecida dos Estados Unidos, com todo o histórico de desamor, violência e abuso.

A patinação é um esporte para gente endinheirada, e Tonya era o patinho feio, apesar do talento absurdo. Suas roupas eram feias, não se enquadrava no gênero princesinha, fugia das regras das músicas clássicas bem comportadas. Por conta disso era sistematicamente discriminada e prejudicada nos campeonatos. A mãe alcoólatra a trata com porradas, e quando encontra seu primeiro amor, que virá a ser seu marido, é isso que encontra também.

Uma vida pesada, dura, sem qualquer ternura. E o tempo todo sofrendo boicotes e rejeições. Ainda assim é ela a primeira na história do esporte a realizar o tal salto triplo, ficando portanto para sempre na história. Imperdoável.

Seu drama de violência e abusos se aprofunda quando o marido decide tirar do caminho a sua rival, quebrando-lhe a perna durante uma olimpíada. Toda sua vida como atleta, construída literalmente à facão vai para o ralo. E o tempo todo o filme mostra o quanto alguém que vem da ralé não tem porra de chance nenhuma no famoso “ Way of life” estadunidense. É só porrada, o tempo todo.

Incriminada, ela perde o direito de patinar. Aquilo que era sua própria vida. Então, fazendo uso de todo o ódio acumulado numa vida de profunda violência ela vai para o box, extravasando toda sua dor na cara das adversárias. As cenas finais são dilacerantes e escancaram a farsa da terra das oportunidades.

Na internet, o filme recebe a etiqueta de comédia, coisa que absolutamente não é. Ele é um drama extremamente perturbador e nos carrega pelas sequências provocando um infinito desejo de colocar aquela mulher entre os braços e enchê-la de ternura. E, assim como Tonya, quantas outras tantas meninas/mulheres não tem cotidianamente sua vida interrompida pela dureza de um sistema que existe para moer gente?

Destaque para a atuação de Allison Janey, como mãe de Tonya. Extraordinária.

Vale ver.

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