Dobhi Ghat


Triste e delicado retrato da vida em Mumbai traz o  filme indiano Dhobi Ghat (também conhecido como Diário de Mumbai ).

A índia é um país que tem grande produção cinematográfica, inclusive seu núcleo de cinema é conhecido como bollyhood - em alusão a roliúde -  e boa parte dos seus filmes são musicais alegres e fantasiosos. Mas, também são produzidos outros filmes de uma beleza sem par. No geral são sempre muito tristes, porque a vida na Índia é muito dura. O país ainda reconhece e mantém as castas o que faz com que as pessoas vivam em universos paralelos. Quem é de uma casta jamais pode pensar em sair dela. Os pobres, a maioria absoluta na Índia, vivem dramas cotidianos que quase não cabem na alma da gente.

Dobhi Ghat mostra essa dureza da vida e abissal distância que pode existir entre as pessoas. Dirigido por Kiran Rao estreou em 2010 no Festival de Cinema de Toronto. A história passeia pela vida de quatro pessoas, de mundos distintos que, de alguma forma se encontram. Arum, um artista solitário e rico que pinta a vida pulsante de Mumbai. Shai, uma indiana que vive nos Estados Unidos e vem passar um tempo em Mumbai para se dedicar ao seu hobby que é fotografar.  Munna, um lavador de roupas que vive nas piores condições e sonha em ser artista de cinema. E Yasmin Noor, uma jovem recém-casada, que conduz toda a narrativa em três cartas filmadas ao irmão.

Essas quatro vidas se entrelaçam para mostrar a realidade das gentes na grande Mumbai. A pobreza infinita, a riqueza que se apropria da dor para produzir dinheiro, o inelutável destino de quem nasceu numa casta dita inferior, o terrível cotidiano das mulheres comuns comparado ao de uma indiana que vive no estrangeiro. Enfim, é um retrato muito bem equilibrado das vidas que se movem na gigantesca cidade indiana.

A amizade, o amor, a indiferença de classe, a capacidade de transcender, tudo isso vai se descortinando em meio às favelas e aos trabalhadores, principalmente os colegas de Munna que batalham nas famosas lavanderias a céu aberto de Mumbai, onde mais de sete mil pessoas ganham a vida limpando a sujeira dos ricos.

Por conta da realidade do país, filmes indianos que apontam para o cotidiano das pessoas comuns, trabalhadoras, nunca são bonitos. São duros e tensos. Sempre provocam um gosto amargo na boca. Mas, ainda assim, pode-se capturar momentos de profunda ternura e entrega humana.

Dobhi Gat é assim. Intenso, belo, triste, e absurdamente humano. Vale ver.


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