Almacenados


Passo aqui para recomendar o espetacular filme de produção mexicana, Almacenados. Baseado na obra do dramaturgo espanhol David Desolá, que também assina o roteiro, o filme é de uma beleza infinita, que faz rir e faz chorar, despertando os sentimentos mais tristes e ternos, ao mesmo tempo.

Almacenados, que traduzindo do espanhol seria algo assim como estar armazenado, estocado, reproduz a última semana de um trabalhador no seu emprego, em um depósito de carga, sendo que nesses cinco dias ele terá de repassar todas as instruções ao novato que chega. O senhor Lino esteve ali por 39 anos e agora está se aposentando por conta de um problema de saúde. Assumindo o cargo está um jovem, Nin, que chega disposto a aprender e trabalhar, mas se depara com a frieza e a sistematicidade do velho.

Não esperem tiros, ação ou turbulência. Almacenados é um filme lento, denso, profundo. A narrativa caminha devagar, no ritmo do velho trabalhador. Toda a trama se passa dentro de um armazém, com pouquíssimas cenas externas, e tem apenas dois personagens. Abordando questões como a velhice, a doença, as dificuldades do encontro geracional e os eternos problemas do trabalho, o filme do jovem diretor mexicano Jack Zagha Kababie é puro assombro. É incrível como tanto o roteirista quanto o diretor conseguem carregar a gente na loucura da rotina do trabalho do armazém, fazendo com que se produza uma compreensão profunda sobre o que é ser trabalhador, o que é ser amigo, o que é ser solidário e o que é, fundamentalmente, ter consciência de classe.

Tanto o garoto Hoze Meléndez, que faz o jovem aprendiz, como o experiente ator mexicano José Carlos Ruiz estão magníficos, numa atuação avassaladora, cheia de silêncios e olhares repletos de perplexidade.

Nesses tempos duros, de tantas tristezas e derrotas, ver um filme como esse provoca tanta alegria, tanta esperança, tanto beleza que, ao final, depois de verter litros de lágrimas, a gente só consegue pensar que a vida vale a pena, tem sentido e é bonita demais. Desde que saibamos que é amor ao outro, ao nosso companheiro, a nossa única possibilidade de salvação.

Recomendo poderosamente. Estamos?

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