M-8 Quando a morte socorre a vida

A dica de hoje é esse filme brasileiro, uma adaptação do livro de Salomão Polakiewicz. O enredo traz um jovem negro, cotista num curso de Medicina, que vai se deparando com as manifestações de racismo típicas desse ambiente. Ao mesmo tempo ele também é confrontado com a dura realidade do Rio de janeiro, passando todos os dias pelo grupo de mulheres que se manifesta pela aparição de seus filhos, maridos e netos desaparecidos no massacre sem parada da população negra de periferia.  

Na faculdade Maurício, vivido pelo excelente ator Juan Paiva, também observa que os corpos que servem de estudo no laboratório de anatomia são todos os negros e começa a desconfiar que entre eles possam estar os desaparecidos. Um corpo em particular o atormenta e ele começa a ver o jovem negro no terreiro de candomblé, como se sua alma estivesse pedindo alguma coisa.  

A partir daí a trama vai se construindo com Maurício se aproximando das mulheres que protestam diariamente. Além disso ele mesmo corre o risco de ser mais um desaparecido quando, saindo de uma festa num bairro rico, se depara com a polícia assassina e racista. O trabalho, dirigido por Jeferson De ganhou o prêmio de melhor filme no Festival do Rio de 2019 e conta também com a atuação maravilhosa de Mariana Nunes que faz a mãe de Maurício. Ela está sublime. Não é um daqueles grandes filmes, tem alguma falhas de roteiro, mas ao escancarar na tela grande esse genocídio sem fim da população negra de maneira sensível e delicada, ele nos arrebata. Impossível não se indignar e se emocionar com o seu final.  

M-8 deixa de ser apenas um cadáver sem nome para se transformar no corpo unificado de uma juventude que clama pela vida.  

Está no Netflix e deve ser visto. É brasileiro e diz da nossa vida cotidiana. 

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